O problema Neruda
Há cem anos (7) nasceu o poeta mais popular de língua espanhola, com uma obra cuja força lírica supera todos os seus defeitos (6).
Sem dúvida, há (8) um "problema Pablo Neruda". Foi o outro grande poeta chileno (2), seu (10) contemporâneo Nicanor Parra (depois de passar toda uma longa vida injustamente à sombra de Neruda (1)), quem o (11) formulou com maliciosa concisão: "Existem duas maneiras de refutar Neruda: uma é não lê-lo; a outra, lê-lo de má-fé. Tenho praticado as duas, mas (9) nenhuma deu resultado". A frase de Parra descreve o dilema de várias gerações de leitores. Ninguém duvida, ou nega seriamente, que Neruda, cujo centenário de nascimento se comemora no dia 12 deste mês, seja um grande poeta (3) - dos maiores do século 20. Mas quase todos os leitores (4) mais exigentes preferem outros poetas, enquanto os mais fiéis nerudistas admiram incondicionalmente o pior de uma vasta obra (15) muito desigual na sua (12) qualidade (5). Entre matronas sentimentais e moçoilas de tornozelos sujos, garotos tresnoitados e velhos saudosos do stalinismo, Neruda parece quase naufragar sob o peso de sua popularidade. Mas sempre volta a emergir, triunfante e definitivo, de toda leitura de boa-fé.
(Adaptado de: ESTENSSORO, Hugo. Bravo, v. 7, n. 82, p. 65, jul. 2004.)
Em que consiste, essencialmente, o problema Neruda, referido no texto?