Consta que ao iniciar uma das palestras, (1) durante sua mítica visita ao Brasil, (2) Jean- Paul Sartre encarou a plateia, (3) vasculhou o recinto com os olhos incertos e disparou a pergunta: Onde estão os negros? O Brasil não era um país de ampla população negra? Não se tratava, além disso (10), de uma das raras democracias raciais do planeta? Sendo assim (11), onde estavam os negros? Sartre vasculhava o recinto e não via nenhum. Por que haviam faltado naquele dia?
Tal visita é mítica porque constituiu um marco, como os mitos, e também porque, como os mitos, deixou atrás de si uma zona de penumbra. Teria ele feito mesmo (12) aquela pergunta à plateia, ou fora ela inventada por outrem e atribuída a ele como a indagação perfeita que a um filósofo perfeito cabia naquela hora (13) e local? Não importa. O que se quer dizer aqui é que o grande Sartre fez a pergunta errada. Ou melhor: fez a pergunta certa, mas no local errado. Deveria tê-la feito mais adiante, (4) quando ________ jantar, (5) no restaurante.
Explique-se. Não surpreende que os negros não estivessem na conferência. Eles não tinham, e continuam não tendo, acesso à boa educação. Então como agora, só uns raros chegavam à universidade. Ir à conferência de Sartre significaria superar uma série de obstáculos, começando pelo lar pobre e continuando com a escola precária, o cansaço produzido por pesadas tarefas, o tempo perdido em intermináveis deslocamentos de ida e volta a distantes periferias. Já no restaurante, ele perceberia, com muito mais surpresa, que igualmente (14) não ________ negros - e não entre os clientes, nisso não haveria nada de surpreendente, mas entre o próprio pessoal de serviço, (6) ou seja, (7) entre os garçons. Ora, o ofício de garçom é relativamente simples. ________ pés resistentes, para andar de cá para lá a noite toda, e habilidade para segurar uma bandeja. Não precisa chegar à universidade. Tudo o que se precisa ler é o cardápio. E no entanto, (8) salvo exceções, (9) não há negros entre garçons no Brasil. Eis a discriminação no seu ponto mais cruel.
(Adaptado de: TOLEDO, Roberto Pompeu de. A pergunta do filósofo. Veja, 29 ago. 2001.)
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