No Brasil colonial, os portugueses e suas autoridades evitaram a concentração de escravos de uma mesma etnia nas propriedades e nos navios negreiros(16). Essa política, a multiplicidade linguística dos negros e as hostilidades recíprocas que trouxeram da África dificultaram a formação de núcleos solidários que retivessem(10) o patrimônio cultural africano, incluindo-se aí a preservação das línguas. Os negros(19), porém(4), ao longo de todo o período colonial, tentaram superar a diversidade de cultura que os dividia(17), juntando fragmentos das mesmas mediante procedimentos diversos, entre eles a formação de quilombos e a realização de batuques e calundus . [...]
As autoridades(5) procuraram evitar a formação desses núcleos solidários, quer(9) destruindo(12) os quilombos, que causavam pavor aos agentes da Coroa(11) - e, de resto, aos proprietários de escravos em geral - , quer(9) reprimindo(13) os batuques e os calundus promovidos pelos negros, Sob a identidade cultural, poderiam gerar uma consciência danosa para a ordem colonial. Por isso(6), capitães-do-mato, o Juízo Eclesiástico e, com menos empenho, a Inquisição foram colocados em seu ..............(1)
Porém alguns senhores aceitaram as práticas culturais africanas - e indígenas - como um mal necessário(14) à manutenção dos escravos(18). Pelo imperativo de convertê-los ao catolicismo, ainda(7) alguns ..........(2) aprenderam as línguas africanas, como um jesuíta na Bahia e o padre Vieira, ambos no .............(3). Outras pessoas, por se envolverem no tráfico negreiro ou viverem na África - como(8) Matias Moreira, residente em Angola no final do Quinhentos - devem igualmente ter se familiarizado(15) com as línguas dos negros.
(Adaptado de: VILLALTA, Luiz Carlos. O que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura. In: MELLO e SOUZA. L. (org.) História da vida privada no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1997. V. 1, p. 341-342.)
O Brasil tem uma das menores populações negras(7) do mundo, para o IBGE(4). “Se continuarmos como está, o censo demográfico ainda irá mostrar que o Brasil tem menos negros(8) do que a França”, ..................(1) Wania Sant’Anna, historiadora e pesquisadora. Com a segunda maior população negra do mundo, conforme relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, publicado em 1997, o Brasil possuiria(5), para o IBGE, a pouco expressiva porcentagem de 5% de negros em sua população(6), segundo o censo demográfico de 1991. Para o IBGE, também fazem parte do caldeirão racial brasileiro 45% de pardos e 50% de brancos.
Na mira dos ativistas negros, a categoria “pardos”, no questionário do censo do IBGE, é vista como “inconsistente”. Segundo eles, esse é um balaio-de-gatos(13) que dificilmente é alcançado por políticas sociais. “Um diálogo franco e aberto entre os brasileiros(9) pode levar a população parda(10) a se declarar negra. Não queremos colocar camisa-de-força(14) em ninguém. Gostaríamos que os pardos(11) fossem mais livres para dizer: ‘Eu tenho essa origem e não tenho problemas com relação a isso’”(15), ...................(2) Ivanir dos Santos, secretário executivo do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP).
A solução apontada pelo IBGE para a demanda do movimento negro é incluir no questionário do ano 2000, além da habitual pergunta sobre cor e raça, uma questão sobre a origem. “Acho pertinente, porque nunca investigamos no censo as origens do povo brasileiro(12). De antemão(17), através de nossos testes, já(18) sabemos(17) que poucas pessoas pardas se dizem afrodescendentes”(16), ............................(3) Simon Schwartzman, presidente do IBGE.
(CORDOVIL, Cláudio. A invisibilidade do censo. Jornal do Brasil, 17 de maio de 1998.)
Se substituíssemos Os negros (19) por O povo africano, quantas outras palavras da frase deveriam ser modificadas para fins de concordância?