Em 1592, inspirado nas descrições do viajante Hans Staden, o alemão De Bry desenhou as cerimônias de canibalismo de índios brasileiros. São documentos de alto valor histórico (...). (1) Porém, não podem ser vistos como retratos exatos: (2) o artista, sob a influência do Renascimento (9) , mitigou a violência antropofágica (13) com imagens idealizadas de índios, que ganharam traços e corpos esbeltos de europeus. As índias ficaram rechonchudas (10) como as divas sensuais do pintor holandês Rubens.
No século XX, (3) o pintor brasileiro Portinari trabalhou o mesmo tema. Utilizando formas densas, rudes e nada idealizadas, Portinari evitou o ângulo do colonizador e procurou não fazer julgamentos (4) . (12) A Antropologia persegue a mesma coisa: (5) investigar, descrever e interpretar as culturas em toda a sua diversidade desconcertante.
Assim, ela é capaz de revelar que o canibalismo é uma experiência simbólica e transcendental - (6) jamais alimentar.
Até os anos 50, waris e kaxinawás comiam pedaços dos corpos de seus mortos. Ainda hoje, os yanomamis misturam as cinzas dos amigos no purê de banana. Ao observar esses rituais, a Antropologia aprendeu que, na antropofagia que chegou ao século XX, o que há é um ato amoroso e religioso, destinado a ajudar a alma do morto a alcançar o céu. A SUPER, ao contar toda a história para você, pretende superar os olhares preconceituosos (11) , ampliar o conhecimento que os brasileiros têm do Brasil e estimular o respeito às culturas indígenas. Você vai ver que o canibalismo, (7) para os índios, (8) é tão digno quanto a eucaristia para os católicos. É sagrado.
(Superinteressante. Agosto, 1997, p. 4.)
Assinale a alternativa que faz uma afirmação correta sobre o sentido do texto.