Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança (1);
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem - se algum houve -, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor (2) espanto:
que não se muda já como soía (3).
(Sonetos, 2001.)
(1) esperança: esperado.
(2) mor: maior.
(3) soer: costumar (soía: costumava).
Elipse: figura de sintaxe pela qual se omite um termo da oração que o contexto permite subentender.
(Domingos Paschoal Cegalla. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa, 2009. Adaptado.)
Transcreva o verso em que se verifica a elipse do verbo. Identifique o verbo omitido nesse verso.
Para o eu lírico, qual das mudanças assinaladas ao longo do soneto lhe causa maior perplexidade? Justifique sua resposta, com base no texto.