Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

muda-se o ser, muda-se a confiança;

todo o mundo é composto de mudança,

tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,

diferentes em tudo da esperança (1);

do mal ficam as mágoas na lembrança,

e do bem - se algum houve -, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,

que já coberto foi de neve fria,

e enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,

outra mudança faz de mor (2) espanto:

que não se muda já como soía (3).

(Sonetos, 2001.)

(1) esperança: esperado.

(2) mor: maior.

(3) soer: costumar (soía: costumava).

Em um determinado trecho do soneto, o eu lírico assinala a passagem de uma estação do ano para outra. Transcreva os versos em que isso ocorre e identifique as estações a que eles fazem referência. Para o eu lírico, tal passagem constitui um evento aprazível? Justifique sua resposta