A questão focaliza um trecho de um poema de 1869 do poeta romântico português Guilherme Braga (1845-1874) e uma marcha de carnaval de Wilson Batista (1913-1968) e Roberto Martins (1909-1992), gravada em 1948.

Em dezembro

Olhai: naquele operário

Tudo é força, ânimo e vida;

Se o trabalho é o seu calvário

Sobe-o de cabeça erguida.

Deus deu-lhe um anjo na esposa,

E as filhas são tão pequenas

Que delas a mais idosa

Conta dez anos apenas.

Tem cinco, e todas tão belas

Que, ao ver-lhes a alegre infância,

Julga estar vendo as estrelas

E o céu a menos distância;

Por isso, quando o trabalho

Lhe fatiga as mãos calosas,

Tem no suor o fresco orvalho

Que dá seiva àquelas rosas,

[...]

Depois, da ceia ao convite,

Toda a família o rodeia

À mesa, aonde o apetite

Faz soberba a humilde ceia.

[...]

No entanto, como a existência

Não tem em si nada estável,

Num dia de decadência

Este obreiro infatigável,

Por ter gasto a noite inteira

Na luta, cede ao cansaço,

E cai da máquina à beira,

E a roda esmaga-lhe um braço...

Ai! o infortúnio é severo!

Bastou por tanto um só dia

Para entrar o desespero

Donde fugiu a alegria!

Empenha em vão tudo, a esmo,

Pouco dinheiro lhe fica,

E não lhe cobre esse mesmo

As despesas da botica.

Pobre mãe, pobres crianças!

Já, de momento em momento,

Vão minguando as esperanças,

Vai crescendo o sofrimento;

(Heras e violetas, 1869.)

Pedreiro Waldemar

Você conhece

O pedreiro Waldemar?

Não conhece?

Mas eu vou lhe apresentar

De madrugada

Toma o trem da Circular

Faz tanta casa

E não tem casa pra morar

Leva a marmita

Embrulhada no jornal

Se tem almoço,

Nem sempre tem jantar

O Waldemar,

Que é mestre no ofício

Constrói um edifício

E depois não pode entrar.

(Roberto Lapiccirella (org.), Antologia musical popular brasileira, 1996.)

Na segunda estrofe do trecho reproduzido do poema, Guilherme Braga se serve da palavra idosa num sentido que não é o habitualmente empregado hoje. Estabeleça essa diferença com base no contexto em que a palavra é empregada.