Tome por base um poema satírico do poeta português João de Deus (1830-1896).
Ossos do ofício
Uma vez uma besta do tesouro, Uma besta fiscal, Ia de volta para a capital, Carregada de cobre, prata e ouro; E no caminho Encontra-se com outra carregada De cevada,
Que ia para o moinho.
Passa-lhe logo adiante Largo espaço, Coleando arrogante E a cada passo Repicando a choquilha
Que se ouvia distante.
Mas salta uma quadrilha De ladrões, Como leões, E qual mais presto Se lhe agarra ao cabresto. Ela reguinga, dá uma sacada Já cuidando Que desfazia o bando; Mas, coitada! Foi tanta a bordoada, Ah! que exclamava enfim A besta oficial: - Nunca imaginei tal! Tratada assim Uma besta real!... Mas aquela que vinha atrás de mim,
Por que a não tratais mal?
“Minha amiga, cá vou no meu sossego, Tu tens um belo emprego! Tu sustentas-te a fava, e eu a troços!
Tu lá serves el-rei, e eu um moleiro!
Ossos do ofício, que o não há sem ossos.”
(Campo de flores, s/d.)
Na última estrofe, o comentário da besta que ia para o moinho corresponde à moral da fábula e equivale, no contexto, ao provérbio: