A questão toma por base um poema de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810).

Não vês aquele velho respeitável,

que à muleta encostado,

apenas mal se move e mal se arrasta?

Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,

o tempo arrebatado,

que o mesmo bronze gasta!

Enrugaram-se as faces e perderam

seus olhos a viveza:

voltou-se o seu cabelo em branca neve;

já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,

nem tem uma beleza

das belezas que teve.

Assim também serei, minha Marília,

daqui a poucos anos,

que o ímpio tempo para todos corre.

Os dentes cairão e os meus cabelos.

Ah! sentirei os danos,

que evita só quem morre.

Mas sempre passarei uma velhice

muito menos penosa.

Não trarei a muleta carregada,

descansarei o já vergado corpo

na tua mão piedosa,

na tua mão nevada.

As frias tardes, em que negra nuvem

os chuveiros não lance,

irei contigo ao prado florescente:

aqui me buscarás um sítio ameno,

onde os membros descanse,

e ao brando sol me aquente.

Apenas me sentar, então, movendo

os olhos por aquela

vistosa parte, que ficar fronteira,

apontando direi: — Ali falamos,

ali, ó minha bela,

te vi a vez primeira.

Verterão os meus olhos duas fontes,

nascidas de alegria;

farão teus olhos ternos outro tanto;

então darei, Marília, frios beijos

na mão formosa e pia,

que me limpar o pranto.

Assim irá, Marília, docemente

meu corpo suportando

do tempo desumano a dura guerra.

Contente morrerei, por ser Marília

quem, sentida, chorando

meus baços olhos cerra.

(Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu e mais poesias. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1982.)

Marque a alternativa em que o verso apresenta acento tônico na segunda e na sexta sílabas: