INSTRUÇÃO: A questão toma por base o poema Livros, do parnasiano brasileiro Afonso Celso (18601938) e uma passagem do livro Elementos de bibliologia, do filólogo e lexicógrafo brasileiro Antonio Houaiss (1915-1999).

Livros

De livros mil vivo cercado,

Dias e noites passo a ler,

Mas, francamente, o resultado

Coisa não é de agradecer.

Nenhum me dá - paz e conforto,

Nenhum me diz se eu amanhã

Vivo estarei ou se, já morto,

Terá cessado o meu afã.

Nada afinal sabeis ao certo

Sobre das almas o tropel...

Do vosso cume vê-se perto,

Chatas montanhas de papel.

Vãs pretensões! Orgulho fofo!

Do ser mesquinho que voz fez

Tendes o mesmo vil estofo,

Tendes a mesma pequenez.

Cada vez mais, debalde, avulta

Vossa maré... Tudo invadis;

Mas não tornais quem vos consulta

Nem menos mau, nem mais feliz.

Que um cataclismo vos destrua,

Mal não fará.... Sem o sentir,

Serena a vida continua:

Lutar, sofrer, sonhar, mentir.

(Afonso Celso. Poesias escolhidas. Rio de Janeiro: H. Garnier Livreiro-Editor, 1904, p. 03-04. Adaptado.)

O livro e a documentação

Nas condições do atual desenvolvimento histórico da humanidade, o conhecimento de primeira mão não pode progredir sem o de segunda mão. Conhecimento de primeira mão é o decorrente, digamos assim, da integração do homem na natureza, para dela haurir continuidade específica e felicidade individual; essa integração, para consolidar-se, foi condicionada pela e condicionou a comunicação verbal, implicadora do conhecimento de segunda mão, a linguagem, no que ela encerra de transmissão cognitiva. Esse conhecimento de segunda mão multiplicou de importância a partir do momento em que o homem pôde mantê-lo em conserva, graficamente, para uso de seus contemporâneos e de seus pósteros. A noosfera, gerando a grafosfera, aumentou os poderes e potências do homem. E hoje a matéria mentada e em conserva gráfica é tão imensa e se renova em ritmo tão intenso, que um dos mais graves problemas da civilização e da cultura humanas é conseguir torná-la relativamente acessível a quantos queiram ou possam acrescentar seu esforço ao herdado das gerações anteriores, na luta pelo aumento do saber, vale dizer, do conhecer, vale dizer, do fazer, vale dizer, do conhecer-fazer-conhecer-fazer, vale dizer, da perpetuação específica e da felicidade individual. Uma “documentação ativa ” é condição e imperativo, nesta altura, do progresso. Forma privilegiada da mensagem gráfica, o livro se insere, necessariamente, na documentação, como um dos meios específicos mais poderosos e eficazes da mesma documentação; mas não apenas o livro, é óbvio, senão que quantas coisas realizadas, executadas, interpretadas, achadas, ordenadas, nominadas pelo homem.

(HOUAISS, Antonio. Elementos de bibliologia. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1967, vol II, p. 36-37.)

Mas não tornais quem vos consulta / Nem menos mau, nem mais feliz.

Nestes versos, o eu-lírico se serve ao mesmo tempo de dois procedimentos tradicionais da poesia e da oratória, a personificação (ou prosopopeia), atribuição de vida, ação, movimento e voz a coisas inanimadas, e a apóstrofe, recurso que consiste em o orador ou o eu-lírico dirigir-se a uma pessoa ou coisa real ou fictícia. Identifique a presença da personificação e da apóstrofe nos versos citados e aponte as palavras que, por suas características gramaticais, permitem detectar esses procedimentos.