Meninos carvoeiros

Os meninos carvoeiros

Passam a caminho da cidade.

- Eh, carvoero!

E vão tocando os animais com um relho enorme.

Os burros são magrinhos e velhos.

Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.

A aniagem é toda remendada.

Os carvões caem.

(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)

- Eh, carvoero!

Só mesmo estas crianças raquíticas

Vão bem com estes burrinhos descadeirados.

A madrugada ingênua parece feita para eles...

Pequenina, ingênua miséria!

Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!

- Eh, carvoero!

Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,

Encarapitados nas alimárias,

Apostando corrida,

Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados!

Petrópolis, 1921

(Manuel Bandeira, O ritmo dissoluto.)

Na terceira estrofe do texto, o enunciador alterna um acento coloquial, expresso na fala das personagens, com um registro formal, observável quando o enunciador se dirige aos meninos carvoeiros. Com base nessa afirmação,

  1. a) Selecione um verso do poema, em que existe essa aproximação com o registro coloquial, popular, explicando como se pode comprová-la;

  2. b) Relacione esse traço com as características do movimento literário ao qual se pode ligar o autor do texto.