Baseado no soneto Solar Encantado, do poeta parnasiano Vítor Silva (1865-1922), num fragmento de uma reportagem da revista Casa Cláudia (abril/1999) e na letra do samba Saudosa Maloca, de Adoniran Barbosa (1910-1982).

Solar Encantado

Só, dominando no alto a alpestre serrania,

Entre alcantis, e ao pé de um rio majestoso,

Dorme quedo na névoa o solar misterioso,

Encerrado no horror de uma lenda sombria.

Ouve-se à noite, em torno, um clamor lamentoso,

Piam aves de agouro, estruge a ventania,

E brilhando no chão por sobre a selva fria,

Correm chamas sutis de um fulgor nebuloso.

Dentro um luxo funéreo. O silêncio por tudo...

Apenas, alta noite, uma sombra de leve

Agita-se a tremer nas trevas de veludo...

Ouve-se, acaso, então, vaguíssimo suspiro,

E na sala, espalhando um darão cor de neve,

Resvala como um sopro o vulto de um vampiro.

(SILVA, Vítor. In: RAMOS, P.E. da Silva. Poesia parnasiana - antologia. São Paulo: Melhoramentos, 1967, p. 245.)

A Alma do Apartamento Mora na Varanda

No terraço de , a família toma sol, recebe amigos para festas e curte a vista dos Jardins, em São Paulo. Os espaços generosos deste apartamento dos anos 50 recebem luz e brisa constantes graças às grandes janelas.

Os aromas desse apartamento de denunciam que ele vive os primeiros dias: o ar recende a pintura fresca. Basta apurar o olfato para também descobrir a predileção do dono da casa por charutos, lírios e velas, espalhados pelos ambientes sociais. Sobre o fundo branco do piso e dos sofás, surgem os toques de cores vivas nas paredes e nos objetos. “Percebi que a personalidade do meu cliente é forte. Não tinha nada a ver usar tons suaves ", diz Nesa César, a profissional escolhida para fazer a decoração.

Quando o dia está bonito, sair para a varanda é expor-se a um banho de sol, pois o piso claro reflete a luz. O espaço resgata um pedaço do Mediterrâneo, com móveis brancos e paredes azuis. “Parece a Grécia", diz a filha do proprietário. Ele, um publicitário carioca que adora sol e festa, acredita que a alma do apartamento está ali.

(MEDEIROS, Edson G. & PATRíCIO, Patrícia. A alma do apartamento mora na varanda. In: Casa Cláudia. São Paulo, Editora Abril, rf 4, ano 23, abril/99, p. 69-70.)

Saudosa Maloca

Se o sinhô não tá lembrado,

Dá licença de contá

Que aqui onde agora está

Esse adifício arto

Era uma casa véia,

Um palacete assobradado.

Foi aqui, “seu" moço,

Que eu, Mato Grosso e o Joca

Construímos nossa maloca

Mais, um dia,

— Nóis nem pode se alembrá —,

Veio os homens c’as ferramentas,

O dono mandô derrubá.

Peguemos todas nossas coisas

E fumos pro meio da rua

Preciá a demolição

Que tristeza que nóis sentia

Cada tauba que caía

Duía no coração

Mato Grosso quis gritá

Mais em cima eu falei:

Os homens tá c’a razão,

Nóis arranja otro lugá.

Só se conformemos quando o Joca falô:

“Deus dá o frio conforme o cobertô".

E hoje nóis pega paia nas gramas do jardim

E p´ra esquecê nóis cantemios assim:

Saudosa maloca, maloca querida, dim, dim,

Donde nóis passemos dias feliz de nossa vida.

(BARBOSA, Adoniran. In: Demônios da Garoa - Trem das 11. CD 903179209-2, Continental-Warner Music Brasil, 1995.)

Tendo em mente que Vítor Silva foi poeta parnasiano quando o Simbolismo ou Decadentismo já começava a ser exercitado em nosso país, e por isso recebeu algumas influências do novo movimento, leia o poema Solar Encantado e, em seguida,

  1. A) Mencione duas características tipicamente parnasianas do poema;

  2. B) Identifique elementos do poema que denunciam certa influência simbolista.