Remissão

Tua memória, pasto de poesia,

tua poesia, pasto dos vulgares,

vão se engastando numa coisa fria

a que tu chamas: vida, e seus pesares.

Mas, pesares de quê? perguntaria,

se esse travo de angústia nos cantares,

se o que dorme na base da elegia

vai correndo e secando pelos ares,

e nada resta, mesmo, do que escreves

e te forçou ao exílio das palavras,

senão contentamento de escrever,

enquanto o tempo, e suas formas breves

ou longas, que sutil interpretavas,

se evapora no fundo do teu ser?

(Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.)

Claro Enigma apresenta, por meio do lirismo reflexivo, o posicionamento do escritor perante a sua condição no mundo.

Considerando-o como representativo desse seu aspecto, o poema “Remissão”