Romance LIII ou Das Palavras Aéreas
Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna, e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova! (...)
Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Perdão podíeis ter sido! — sois madeira que se corta, — sois vinte degraus de escada, — sois um pedaço de corda... — sois povo pelas janelas,
cortejo, bandeiras, tropa...
Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Éreis um sopro na aragem...
— sois um homem que se enforca!
(Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência.)
A “estranha potência” que a voz lírica ressalta nas palavras decorre de uma combinação entre