Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se convenceram de que ela estava morta, menos eu. Se eu pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo a vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela era no dia em que chegou da Formação, só um pouquinho mais magra.

Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó: “Como é que aalma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela fazer uma caretinha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode saber essas coisas com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se despega do corpo, outros morrem de repente sem sofrer.

(Helena Morley, Minha Vida de Menina.)

Perguntas

Numa incerta hora fria

perguntei ao fantasma

que força nos prendia,

ele a mim, que presumo

estar livre de tudo

eu a ele, gasoso,

(...)

No voo que desfere

silente e melancólico,

rumo da eternidade,

ele apenas responde

(se acaso é responder

a mistérios, somar‐lhes

um mistério mais alto):

Amar, depois de perder.

(Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma)

As perguntas da menina e do poeta versam sobre a morte. É correto afirmar que