Tornando da malograda espera do tigre, alcançou o capanga um casal de velhinhos (1), que seguiam diante dele o mesmo caminho (2), e conversavam acerca de seus negócios particulares. Das poucas palavras que apanhara, percebeu Jão Fera que destinavam eles uns cinquenta mil-réis (3), tudo quanto possuíam, à compra de mantimentos, afim de fazer um moquirão*, com que pretendiam abrir uma boa roça.
- Mas chegará, homem? perguntou a velha.
- Há de se espichar bem, mulher!
Uma voz os interrompeu:
- Por este preço dou eu conta da roça!
- Ah! É nhô Jão!
Conheciam os velhinhos o capanga, a quem tinham por homem de palavra, e de fazer o que prometia. Aceitaram sem mais hesitação; e foram mostrar o lugar que estava destinado para o roçado.
Acompanhou-os Jão Fera; porém, mal seus olhos descobriram entre os utensílios a enxada, a qual ele esquecera um momento no afã de ganhar a soma precisa, que sem mais deu costas ao par de velhinhos e foi-se deixando-os embasbacados.
(José de Alencar, Til.)
* moquirão = mutirão (mobilização coletiva para auxílio mútuo, de caráter gratuito).
Considerada no contexto histórico-social figurado no romance Til, a brusca reação de Jão Fera, narrada no final do excerto, explica-se