Revelação do subúrbio

Quando vou para Minas, gosto de ficar de pé, contra a vidraça do carro*,

vendo o subúrbio passar.

O subúrbio todo se condensa para ser visto depressa,

com medo de não repararmos suficientemente

em suas luzes que mal têm tempo de brilhar.

A noite come o subúrbio e logo o devolve

ele reage, luta, se esforça,

até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais

e à noite só existe a tristeza do Brasil.

Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo, 1940.

(*) carro: vagão ferroviário para passageiros.

Segundo o crítico e historiador da literatura Antonio Candido de Mello e Souza, justamente na década que presumivelmente corresponde ao período de elaboração do livro a que pertence o poema, o modo de se conceber o Brasil havia sofrido "alteração marcada de perspectivas".

A leitura do poema de Drummond permite concluir corretamente que, nele, o Brasil não mais era visto como país