LXXVIII (Camões, 1525 – 1580)

Leda serenidade deleitosa,

Que representa em terra um paraíso;

Entre rubis e perlas doce riso;

Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;

Presença moderada e graciosa,

Onde ensinando estão despejo e siso

Que se pode por arte e por aviso,

Como por natureza, ser fermosa;

Fala de quem a morte e a vida pende,

Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;

Repouso nela alegre e comedido:

Estas as armas são com que me rende

E me cativa Amor; mas não que possa

Despojar-me da glória de rendido.

(CAMÕES, L. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008.)

A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos