A minha ama-de-leite Guilhermina Furtava as moedas que o Doutor me dava. Sinhá-Mocinha, minha Mãe, ralhava...
Via naquilo a minha própria ruína!

Minha ama, então, hipócrita, afetava Suscetibilidade de menina: “- Não, não fora ela! -“ E maldizia a sina,
Que ela absolutamente não furtava.

Vejo, entretanto, agora, em minha cama, Que a mim somente cabe o furto feito...
Tu só furtaste a moeda, o ouro que brilha.

Furtaste a moeda só, mas eu, minha ama, Eu furtei mais, porque furtei o peito
Que dava leite para a tua filha! 

Augusto dos Anjos. Ricordanza della mia gioventú. Internet: www.biblio.com.br/.

Influenciado por tendências filosóficas e pessimistas, Augusto dos Anjos percebeu o conteúdo lírico e melancólico da decadência econômica do açúcar no Brasil pós-abolição para recolher imagens poéticas de tais tendências, como a decomposição da matéria, a redução da vida humana a reações químicas e o desmoronamento de civilizações.