Samba
[1] Oh ritmos fraternos do samba, trazendo o feitiço das macumbas, o cavo bater das marimbas gemendo [4] lamentos despedaçados de escravo, oh ritmos fraternos do samba quente da Baía! Pegando fogo no sangue inflamável dos mulatos, [7] fazendo gingar os quadris dengosos das mulheres, entornando sortilégios e loucura
nas pernas bailarinas dos negros...
[10] Ritmos fraternos do samba, herança de África que os negros levaram no ventre sem sol dos navios negreiros, [13] e soltaram, carregados de algemas e saudade, nas noites mornas do Cruzeiro do Sul! Oh ritmos fraternos do samba, [16] acordando febres palustres no meu povo embotado das doses do quinino europeu... Ritmos africanos do samba da Baía, [19] com maracas matraqueando compassos febris — Que é que a baiana tem, que é — violões tecendo sortilégios de xicuembos
[22] e atabaques soando, secos, soando...
Oh ritmos fraternos do samba! Acordando o meu povo adormecido à sombra dos embondeiros [25] dizendo na sua linguagem encharcada de ritmos que as correntes dos navios negreiros não morreram não,
só mudaram de nome,
[28] mas ainda continuam, continuam, os ritmos fraternais do samba!
Noémia de Souza. Sangue negro. São Paulo: Kapulana, 2016, p. 85.
Tendo como referência o fragmento do poema Samba, escrito em 1949 pela autora moçambicana Noémia de Souza, julgue o item a seguir.
No verso 12, a preposição de, contida na contração “dos” — “dos navios negreiros” —, expressa causa, razão por que a referida contração poderia ser substituída, sem prejuízo dos sentidos do texto, pela expressão devido aos.