[1] Eu vivo sozinha, ninguém me procura!
Acaso feitura
Não sou de Tupá!
[4] Se algum dentre os homens de mim não se esconde:
— “Tu és”, me responde,
“Tu és Marabá!”
[7] — Meus olhos são garços, são cor das safiras,
— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
— Imitam as nuvens de um céu anilado,
[10] — As cores imitam das vagas do mar!
Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
“Teus olhos são garços”,
[13] Responde anojado, “mas és Marabá:
“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
“Uns olhos fulgentes,
[16] “Bem pretos, retintos, não cor d’anajá!”
(...)
— Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
— O oiro mais puro não tem seu fulgor;
[19] — As brisas nos bosques de os ver se enamoram
— De os ver tão formosos como um beija-flor!
Mas eles respondem:
[22] “Teus longos cabelos,
“São loiros, são belos,
“Mas são anelados; tu és Marabá:
[25] “Quero antes cabelos bem lisos, corridos,
“Cabelos compridos,
“Não cor d’oiro fino, nem cor d’anajá,”
(...)
[28] E as doces palavras que eu tinha cá dentro
A quem nas direi?
O ramo d’acácia na fronte de um homem
[31] Jamais cingirei:
Jamais um guerreiro da minha arazoia
Me desprenderá:
[34] Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que sou Marabá!
Gonçalves Dias. Poesia e prosa completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
Tendo por referência o fragmento acima, do poema Marabá, de Gonçalves Dias, julgue o item.
Marabá é rejeitada por ter olhos com “cor das safiras” (v.7) e cabelos loiros e anelados, características que subvertem o padrão de beleza metropolitano, uma vez que ela não atende ao tipo comum dos nativos brasileiros, com “olhos bem pretos, luzentes” (v.14) e “cabelos bem lisos, corridos” (v.25).