Poema I

Dois e dois são quatro

[1] Como dois e dois são quatro

Sei que a vida vale a pena

Embora o pão seja caro

[4] E a liberdade, pequena

Como teus olhos são claros

E a tua pele, morena

[7] Como é azul o oceano

E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria

[10] Por trás do terror me acena

E a noite carrega o dia

No seu colo de açucena

[13] — sei que dois e dois são quatro

sei que a vida vale a pena

mesmo que o pão seja caro

[16] e a liberdade, pequena.

Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.

Poema II

Neologismo

[1] Beijo pouco, falo menos ainda.

Mas invento palavras

Que traduzem a ternura mais funda

[4] E mais cotidiana.

Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.

Intransitivo:

[7] Teadoro, Teodora

Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.

Considerando os aspectos estruturais e os sentidos produzidos nos poemas acima, julgue o item que se segue.

No poema II, o poeta cria um neologismo para expressar seu sentimento e, valendo-se da liberdade poética e da ironia, classifica como intransitivo o verbo criado, que, de fato, é seguido do complemento “Teodora”.