[1] Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro,

fui honrado pastor da tua aldeia;

vestia finas lãs e tinha sempre

[4] a minha choça do preciso cheia.

Tiraram-me o casal e o manso gado,

nem tenho a que me encoste um só cajado.

[7] Para ter que te dar, é que eu queria

de mor rebanho ainda ser o dono;

prezava o teu semblante, os teus cabelos

[10] ainda muito mais que um grande trono.

Agora que te oferte já não vejo,

além de um puro amor, de um são desejo.

[13] Se o rio levantado me causava,

levando a sementeira, prejuízo,

eu alegre ficava, apenas via

[16] na tua breve boca um ar de riso.

Tudo agora perdi; nem tenho o gosto

de ver-te ao menos compassivo o rosto.

Thomaz Antonio Gonzaga. Marília de Dirceu. Rio de Janeiro: Edouro, 1992. p. 74.

Tendo por referência o fragmento acima, da obra Marília de Dirceu, de Thomaz Antonio Gonzaga, e considerando a estética árcade, julgue o item a seguir.

O eu lírico avalia criticamente, no presente, a sua ambição desmedida por posses no passado.