o silêncio se mete a maltratar me ditando abreviaturas de mim e, quem sabe, a mim mesmo me dilatando
Paulo Leminski. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 22.
Ângelus Desmaia a tarde. Além, pouco e pouco, no poente, O sol, rei fatigado, em seu leito adormece: Uma ave canta, ao longe; o ar pesado estremece
Do ângelus ao soluço agoniado e plangente.
Salmos cheios de dor, impregnados de prece, Sobem da terra ao céu numa ascensão ardente. E enquanto o vento chora e o crepúsculo desce,
A Ave-Maria vai cantando, tristemente.
Nest’hora, muita vez, em que fala a saudade Pela boca da noite e pelo som que passa,
Lausperene de amor cuja mágoa me invade,
Quisera ser o som, ser a noite, ébria e doida De trevas, o silêncio, esta nuvem que esvoaça, Ou fundir-me na luz e desfazer-me toda.
Francisca Júlia. Ângelus. In: Manuel Bandeira (Org.). Antologia dos poetas brasileiros: poesia da fase parnasiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996, p. 293-4.
Considerando os poemas acima, julgue o item.
Na linguagem empregada na primeira estrofe do poema Ângelus, predomina a personificação.