Queixa-se o poeta em que o mundo vay errado, e querendo emendâlo o que tem por empreza difficultosa.
[1] Carregado de mim ando no mundo, E o grande peso embarga-me as passadas, Que como ando por vias desusadas,
[4] Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas, [7] Que as bestas andam juntas mais ornadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.
Não é fácil viver entre os insanos, [10] Erra quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
O prudente varão há de ser mudo, [13] Que é melhor neste mundo mar de enganos Ser louco cos demais, que ser sisudo.
Gregório de Matos. Crônica do viver baiano seiscentista – obra poética completa – códice James Amado. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Record, V. 1 1999, p. 347.
Considerando o texto acima, de Gregório de Matos, julgue o item.
A oração “seguir o imundo/Caminho” (v.5-6) é aposto da expressão “O remédio” e evoca, no nível semântico e interpretativo, a cura das dores de que o poeta se queixa.