Ode Triunfal

[1] À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica

Tenho febre e escrevo.

Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,

[4] Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!

Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!

[7] Em fúria fora e dentro de mim,

Por todos os meus nervos dissecados fora,

Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!

[10] Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,

De vos ouvir demasiadamente de perto,

E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso

[13] De expressão de todas as minhas sensações,

Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

Fernando Pessoa: Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1972, p. 306.

Tendo como referência inicial o trecho do poema de Fernando Pessoa e os aspectos que ele evoca, julgue o item.

No trecho “beleza disto totalmente desconhecida dos antigos” (v.4), Fernando Pessoa está sugerindo que, anteriormente à Revolução Industrial, as sociedades humanas não dispunham de máquinas, iluminação e meios de transporte.