[1] Para deixar todas essas coisas um pouco na sombra
e poder dizer o que delas julgava, sem ser obrigado a seguir
nem refutar as opiniões acatadas entre os estudiosos, resolvi
[4] deixar todo este mundo aqui para suas discussões e falar
somente do que aconteceria em um novo, se Deus criasse,
agora, em algum lugar, nos espaços imaginários, matéria
[7] suficiente para compô-lo e agitasse, diversamente e sem
ordem, as várias partes dessa matéria, a fim de compor, com
elas, um caos tão confuso quanto o imaginado pelos poetas
[10] e, depois, se limitasse a prestar seu concurso natural à
natureza e a deixá-la agir segundo suas leis, que ele
estabelecera. A maior parte da matéria desse caos deveria,
[13] em decorrência dessas leis, dispor-se e arranjar-se de um
certo modo que a tornasse semelhante aos nossos céus,
devendo algumas partes compor uma Terra, outras, planetas
[16] e cometas, e algumas outras, um Sol e estrelas fixas.
René Descartes. Discurso do método. São Paulo: Martins Fontes, p. 76-77 (com adaptações).
Considerando o texto acima, extraído da obra Discurso do Método, de René Descartes, julgue:
Considere que uma propriedade importante de um sistema caótico seja sua estrita dependência às condições iniciais, de tal modo que, a despeito de esse sistema estar submetido às mesmas leis naturais, a sequência de estados que ele pode apresentar não se repete, a menos que as condições iniciais sejam exatamente as mesmas, em uma ordem infinita de precisão. Nessa perspectiva, servem de exemplo a crise econômica de 1929 e a de 2009, as quais, embora mantenham semelhanças, não surgiram das mesmas condições iniciais e não produziram as mesmas consequências. A partir dessas informações, é correto afirmar que, segundo a concepção expressa por Descartes, no texto, o mundo é um sistema caótico.