[1] Para deixar todas essas coisas um pouco na sombra

e poder dizer o que delas julgava, sem ser obrigado a seguir

nem refutar as opiniões acatadas entre os estudiosos, resolvi

[4] deixar todo este mundo aqui para suas discussões e falar

somente do que aconteceria em um novo, se Deus criasse,

agora, em algum lugar, nos espaços imaginários, matéria

[7] suficiente para compô-lo e agitasse, diversamente e sem

ordem, as várias partes dessa matéria, a fim de compor, com

elas, um caos tão confuso quanto o imaginado pelos poetas

[10] e, depois, se limitasse a prestar seu concurso natural à

natureza e a deixá-la agir segundo suas leis, que ele

estabelecera. A maior parte da matéria desse caos deveria,

[13] em decorrência dessas leis, dispor-se e arranjar-se de um

certo modo que a tornasse semelhante aos nossos céus,

devendo algumas partes compor uma Terra, outras, planetas

[16] e cometas, e algumas outras, um Sol e estrelas fixas.

René Descartes. Discurso do método. São Paulo: Martins Fontes, p. 76-77 (com adaptações).

Considerando o texto acima, extraído da obra Discurso do Método, de René Descartes, julgue: Considere as seguintes informações.
Segundo o filósofo escocês David Hume, as leis que são encontradas na natureza, tais como as da elasticidade e da gravidade, são princípios gerais e “podemos considerarmonos suficientemente exitosos se conseguirmos reconduzir os fenômenos particulares a esses princípios, ou, ao menos, aproximá-los tanto quanto possível”. Com base nessas informações e no texto apresentado e considerando, ainda, que o homem conhece a natureza a partir de inferências ou aproximações entre fatos naturais e princípios gerais, é correto afirmar que Hume defende uma concepção de leis da natureza diversa da proposta por Descartes no texto, segundo a qual as leis da natureza são da ordem do necessário e, portanto, continuariam aplicáveis mesmo se outra natureza fosse criada.