A relação entre verdade e justiça

[1] Gostaria de me deter um instante na relação

verdade-justiça, porque, claro, é um dos temas fundamentais

da filosofia ocidental. Afinal de contas, um dos pressupostos

[4] mais imediatos e mais radicais de todo discurso judiciário,

político, crítico é o de que existe pertinência essencial entre

o enunciado da verdade e a prática da justiça. Ora, acontece

[7] que, no ponto em que vêm encontrar-se a instituição

destinada a administrar a justiça, de um lado, e as instituições

qualificadas para enunciar a verdade, de outro, sendo mais

[10] breve, no ponto em que se encontram o tribunal e o cientista,

onde se cruzam a instituição judiciária e o saber médico ou

científico em geral, nesse ponto são formulados os

[13] enunciados que possuem o estatuto de discursos verdadeiros,

que detêm efeitos judiciários consideráveis e que têm, no

entanto, a curiosa propriedade de serem alheios a todas as

[16] regras, mesmo as mais elementares, de formação dos

discursos científicos, de serem alheios também às regras do

direito e de serem, no sentido estrito, grotescos.

Michel Foucault. Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 14-15.

Com base no texto acima, extraído da obra Os Anormais, de Michel Foucault, julgue o item.

O texto trata da verdade e ele próprio é um discurso que se impõe como verdade, como demonstram o emprego das expressões “claro” (l.2) e “Afinal de contas” (l.3) e a predominância da flexão de presente do indicativo dos verbos utilizados, como, por exemplo, “é” (l.2 e 5), “existe” (l.5), “acontece” (l.6), “vêm encontrar-se” (l.7).