[1] “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu

cadáver dedico como saudosa lembrança estas Memórias

Póstumas”

[4] Entre a morte do Quincas Borba e a minha,

mediaram os sucessos narrados na primeira parte do livro. O

principal deles foi a invenção do emplasto Brás Cubas, que

[7] morreu comigo, por causa da moléstia que apanhei. Divino

emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os homens,

acima da ciência e da riqueza, porque eras a genuína e direta

[10] inspiração do Céu. O caso determinou o contrário; e aí vos

ficais eternamente hipocondríacos. Este último capítulo é

todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto,

[13] não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento.

Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna

de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não

[16] padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do

Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer

pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e,

[19] conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará

mal; porque, ao chegar a este outro lado do mistério, acheime

com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste

[22] capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a

nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Machado de As s i s . Memórias póstumas de Brás Cubas. Internet: (com adaptações).

Considerando o romance Memórias póstumas de Brás Cubas, os fragmentos do romance transcritos acima e as características do Realismo e Naturalismo no Brasil, julgue o item.

A visão determinista do autor está representada nos segmentos “moléstia que apanhei” (l.7) e “semidemência do Quincas Borba” (l.16-17).