A cidade

[1] Destinava-se a uma cidade maior, mas o trem

permaneceu indefinidamente na antepenúltima estação.

Cariba acreditou que a demora poderia ser atribuída

[4] a algum comboio de carga descarrilado na linha, acidente

comum naquele trecho da ferrovia. Como se fizesse excessivo

o atraso e ninguém o procurasse para lhe explicar o que estava

[7] ocorrendo, pensou numa provável desconsideração à sua

pessoa, em virtude de ser o único passageiro do trem.

Chamou o funcionário que examinara as passagens e

[10] quis saber se constituía motivo para tanta negligência o fato de

ir vazia a composição.

Não recebeu uma resposta direta do empregado da

[13] estrada, que se limitou a apontar o morro, onde se dispunham,

sem simetria, dezenas de casinhas brancas.

— Belas mulheres? Indagou o viajante.

[16] Percebeu logo que tinha pela frente um cretino.

Apanhou as malas e se dispôs a subir as íngremes ladeiras que

o conduziriam ao povoado.

[19] (...)

Uma vaga tristeza rodeava o lugarejo. As janelas e

portas das casas estavam fechadas, mas os jardins pareciam ter

[22] sido regados na véspera. Experimentou bater em alguns dos

chalés e não o atenderam. Caminhou um pouco mais e, do topo

da montanha, avistou a cidade, tão grande quanto a que

[25] buscava.

Murilo Rubião. Contos reunidos. São Paulo: Ática, 1998.

Com relação à estética literária brasileira e ao trecho narrativo apresentado, de Murilo Rubião, integrante da geração de autores que surgiu logo após a consolidação do Modernismo, julgue o item.

Pelo modo de construção do diálogo dos personagens, conclui-se que a qualificação de “cretino” (l.16) é atribuída pelo “empregado da estrada” (l.12-13) ao “viajante” (l.15).