[1] Alaíde (alheando-se bruscamente) — Espera, estou-me

lembrando de uma coisa. Espera. Deixa eu ver! Mamãe

dizendo a papai.

[4] (Apaga-se o plano da alucinação. Luz no plano da memória.

Pai e mãe.)

Mãe — Cruz! Até pensei ter visto um vulto. — Ando tão

[7] nervosa. Também esses corredores! A alma de madame

Clessi pode andar por aí... e...

Pai — Perca essa mania de alma! A mulher está morta,

[10] enterrada!

Mãe — Pois é...

(Apaga-se o plano da memória. Luz no plano da

[13] alucinação.)

Clessi — Mas o que foi?

Alaíde — Nada. Coisa sem importância que eu me lembrei.

[16] (forte) Quero ser como a senhora. Usar espartilho. (doce)

Acho espartilho elegante!

Clessi — Mas seu marido, seu pai, sua mãe e... Lúcia?

[19] Homem (para Alaíde) — Assassina!

(Apaga-se o plano da alucinação. Luz no plano da

realidade. Sala de operação.)

[22] 1.º médico — Pulso?

2.º médico — Cento e sessenta.

1.º médico — Rugina.

[25] 2.º médico — Como está isso!

1.º médico — Tenta-se uma osteossíntese!

3.º médico — Olha aqui.

[28] 1.º médico — Fios de bronze.

(Pausa)

1.º médico — O osso!

[31] 3.º médico — Agora é ir até o fim.

1.º médico — Se não der certo, faz-se a amputação.

(Rumor de ferros cirúrgicos)

[34] 1.º médico — Depressa!

(Apaga-se a sala de operação. Luz no plano da alucinação.)

Homem (para Alaíde, sinistro) — Assassina!

Nelson Rodrigues. Vestido de noiva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004, p. 18-20.

Tendo como referência o fragmento da obra Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, apresentado acima, julgue o item seguinte.

Os planos de tempo apresentados nesse fragmento de Vestido de Noiva estão todos no plano do tempo em que a peça está sendo encenada, ou seja, eles correspondem ao tempo real.