[1] O último dia do ano

não é o último do tempo.

Outros dias virão.

[4] O último dia do tempo

não é o último dia de tudo.

Fica sempre uma franja de vida

[7] onde se sentam dois homens.

Um homem e seu contrário,

uma mulher e seu pé,

[10] um corpo e sua memória,

um olho e seu brilho,

uma voz e seu eco,

[13] e quem sabe até se Deus...

Carlos Drummond de Andrade. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1988, p. 107 (fragmento).

Considerando o fragmento transcrito acima, da poesia de Carlos Drummond de Andrade, julgue o item que se segue.

O poeta atenua a força semântica que o vocábulo “último” adquire no imaginário coletivo por meio do emprego de frases negativas em que contrapõe, respectivamente, “ano” (v.1) a “tempo” (v.2) e “tempo” (v.4) a “tudo” (v.5).