EU, O NARRADOR, SOU MUATIÂNVUA.
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Onde eu nasci, havia homens de todas as línguas vivendo nas casas comuns e miseráveis da Companhia. Onde eu cresci, no Bairro Benfica, em Benguela, havia homens de todas as línguas, sofrendo as mesmas amarguras. O primeiro bando a que pertenci tinha mesmo meninos brancos, e tinha miúdos nascidos de pai umbundo, tchokue, kimbundo, fiote, kuanhama.
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Eu sou o que é posto de lado, porque não seguiu o sangue da mãe kimbando ou o sangue do pai umbando. Também Sem Medo, também Teoria, também o Comissário, e tantos outros mais.
A imensidão do mar que nada pode modificar ensinou-me a paciência. O mar une, o mar estreita, o mar liga. Nós também temos o nosso mar interior, que não é o Kuanza, nem o Loje, nem o Kunene. O nosso mar, feito de gotas-diamante, suores e lágrimas esmagados, o nosso mar é o brilho da arma bem oleada que faísca no meio da verdura do Mayombe, lançando fulgurações de diamante ao sol da Lunda.
PEPETELA. Mayombe. Rio de Janeiro: Leya, 2013, p. 119-121.
Com base em sua leitura do fragmento e em seus conhecimentos sobre o romance Mayombe, analise as seguintes afirmações a respeito do guerrilheiro Muatiânvua, personagem da obra:
I. Condena o tribalismo, comportamento manifesto por vários dos guerrilheiros comandados por Sem Medo, apesar de ter vivenciado a experiência tribal quando criança, na época em que participou de seu “primeiro bando”.
II. Sente-se marginalizado, pois, assim como Sem Medo e outros companheiros de luta, não assumiu lealdade a uma tribo, mantendo-se fiel aos ideais marxistas que orientam os guerrilheiros do MPLA.
III. Apesar das tensões geradas pelo tribalismo, considera a luta pela independência de Angola um propósito capaz de aplacar as diferenças entre os guerrilheiros de seu grupo.
São verdadeiras as afirmações: