Ingaia Ciência

A madureza, essa terrível prenda

que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,

todo sabor gratuito de oferenda

sob a glacialidade de uma ,

a madureza vê, posto que a venda

interrompa a surpresa da janela,

o círculo vazio, onde se estenda,

e que o mundo converte numa cela.

A madureza sabe o preço exato

dos amores, dos ócios, dos quebrantos,

e nada pode contra sua ciência

e nem contra si mesma. O agudo olfato,

o agudo olhar, a mão, livre de encantos,

se destroem no sonho da existência.

((ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro enigma. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991, p. 18))

Vocabulário: coluna de pedra onde os antigos faziam inscrições funerárias.

A publicação de Claro enigma, em 1951, marca uma série de mudanças em relação à lírica desenvolvida por Carlos Drummond de Andrade nas décadas de 1930 e 1940. Dentre essas mudanças, a análise do poema “Ingaia ciência” permite destacar: