Foi quase logo que eu cheguei no Calango-Frito, foi logo que eu me cheguei aos bambus. Os grandes , envernizados, lisíssimos, pediam autógrafo; e alguém já gravara, a canivete ou ponta de faca, letras enormes, enchendo um entrenó:

“Teus olho tão singular

Dessas trançinhas tão preta

Qero morer eim teus braço

Ai fermosa marieta.”

E eu, que vinha vivendo o visto mas vivando estrelas, e tinha um lápis na algibeira, escrevi também, logo abaixo:

Sargon

Assarhaddon

Assurbanipal

Teglattphalasar, Salmanassar

Nabonid, Nabopalassar, Nabucodonosor

Belsazar

Sanekherib

E era para mim um poema esse rol de reis leoninos, agora despojados da vontade e só representados na poesia. Não pelos cilindros de ouro e pedras, postos sobre as reais , nem pelas alargadas barbas, entremeadas de fios de ouro. Só, só por causa dos nomes. Sim, que, à parte o sentido , valia o ileso gume do vocábulo pouco visto e menos ainda ouvido, raramente usado, melhor fora se jamais usado.

((ROSA, João Guimarães. Ficção completa. Vol 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017, p. 223-224))

Vocabulário:

caule.

cor amarelo-ouro.

terrível.

cabelos.

crespas.

antigo.

Dentre os aspectos que caracterizam a prosa de João Guimarães Rosa em Sagarana, destaca-se, no fragmento em questão,