Texto I

A revolução dessa obra, que parece cavar um fosso entre dois mundos, foi uma revolução ideológica e formal: aprofundando o desprezo às idealizações românticas e ferindo no cerne o mito do narrador onisciente, que tudo vê e tudo julga, deixou emergir a consciência nua do indivíduo, fraco e incoerente. O que restou foram as memórias de um homem igual a tantos outros, o e desfrutador Brás Cubas.

(BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 40. ed. São Paulo: Cultrix, 2002, p.177)

Texto II

Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. (...) Não era perfeito, decerto; tinha, por exemplo, o de mandar para os jornais a notícia de um ou outro benefício que praticava, -sestro repreensível ou não louvável, concordo; mas ele desculpava-se dizendo que as boas ações eram contagiosas, quando públicas; razão a que se não pode negar algum peso. Creio mesmo (e nisto faço o seu maior elogio) que ele não praticava, de quando em quando, esses benefícios senão com o fim de espertar a filantropia dos outros; e se tal era o intuito, força é confessar que a publicidade tornava-se uma . Em suma, poderia dever algumas atenções, mas não devia um real a ninguém.

((ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê, 2001, p. 224-225))

Vocabulário:

cauteloso, previnido.

vício.

condição sem a qual não é possível o que se pretende.

No Texto I, Alfredo Bosi destaca a particularidade do foco narrativo criado por Machado de Assis em Memórias póstumas de Brás Cubas. Dentre os traços característicos do narrador desse romance, a leitura do Texto II permite destacar a presença de: