TEXTO I

O homem pensa ter na (4) a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. Vê, (1)! Na Cidade perdeu ele a força e beleza harmoniosa do corpo, e se tornou esse ser ressequido e escanifrado ou obeso e afogado em unto, de ossos moles como trapos, de nervos trêmulos como arames, com cangalhas, com chinós, com dentaduras de chumbo, sem sangue, sem fibra, sem viço, torto, corcunda — esse ser em que Deus, espantado, mal pôde reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre Adão!

Na Cidade findou a sua liberdade moral: cada manhã ela (2) impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência: pobre e subalterno, a sua vida é um constante (3); rico e superior como um Jacinto, a sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimônias, praxes, ritos, serviços mais disciplinares que os de um cárcere ou de um quartel... A sua tranquilidade (bem tão alto que Deus com ela recompensa os santos) onde está, meu Jacinto?

Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pão ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia rodela de ouro!

(Eça de Queiroz)

Vocabulário

escanifrado – magro, enfraquecido

unto – gordura

chinós – cabeleira postiça, peruca

TEXTO II

(2) grafite está estampado (2) no Parque dos Patins (4), um lugar muito frequentado pelo público infantil, na Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio. (1). É uma mulher fantasiada, (3) com um fuzil atravessado nas costas, uma metralhadora na mão esquerda e uma pistola na direita. Lá no fundo, dá para ver o morro do Corcovado e o Cristo Redentor. Deve haver quem ache que é arte de rua. A coluna acha um horror. É apenas mais um retrato que emporcalha a paisagem carioca. Com todo respeito.

(Anselmo Gois. O Globo, 29/06/2010.)

Quanto à construção linguística do Texto I e a legenda do Texto II, pode-se afirmar que