Leia o poema “O poeta ficou cansado” de Adélia Prado, representativo da estética contemporânea.

O poeta ficou cansado

Pois não quero mais ser Teu arauto.

Já que todos têm voz,

por que só eu devo tomar navios

de rota que não escolhi?

Por que não gritas, Tu mesmo,

a miraculosa trama dos teares,

já que Tua voz reboa

nos quatro cantos do mundo?

Tudo progrediu na terra

e insistes em caixeiros-viajantes

de porta em porta, a cavalo!

Olha aqui, cidadão,

repara, minha senhora,

neste canivete mágico:

corta, saca e fura,

é um faqueiro completo!

Ó Deus,

me deixa trabalhar na cozinha,

nem vendedor nem escrivão,

me deixa fazer Teu pão.

Filha, diz-me o Senhor,

eu só como palavras.

(Adélia Prado, textbfOráculos de maio)

  1. a) Interprete a leitura crítica do cotidiano realizada pelo eu lírico.

  2. b) Exemplifique sua interpretação dos versos de Adélia Prado quanto à estilização correspondente, efetuada na linguagem.