Eu vejo uma gravura - Descrição de gravuras - Seis

Eu vejo uma gravura

grande e rasa.

No primeiro plano

Uma casa.

À direita da casa

outra casa.

À esquerda da casa

outra casa.

Lá no fundo da casa

outra casa.

Em frente da casa

uma vala:

onde escorre a lama

doutra casa.

E no chão da casa

outra vala:

onde escorre o esgoto

doutra casa.

Esta casa que eu vejo

não se casa

com o que chamamos

uma casa.

Pois as paredes são

Esburacadas

onde passam aranhas

e baratas.

E os telhados são

folhas de zinco.

E podem cair

a qualquer vento.

E matar a mulher

que mora dentro.

E matar a criança

que está dentro

da mulher que mora

nessa casa.

Ou da mulher que mora

noutra casa.

É preciso pintar

outra gravura

com casas de argamassa

na paisagem.

Crianças cantando

a segurança

da vida construída

à sua imagem.

JOANA EM FLOR, Reynaldo Jardim.

A repetição do pronome indefinido outra, no poema Eu Vejo uma Gravura, enfatiza a ideia de: