Texto II
Nunca esteve tão bom para nós, mulheres (7). Nem tão difícil.
Os salários não são iguais, as creches continuam insuficientes (9), o sexo é uma confusão total entre o agir e o sentir (16), o trabalho é complicadíssimo em termos psíquicos para a mulher (10): fonte de culpa e medos. Nunca foi tão difícil. Muito está colocado, mas tudo está por fazer (14). Esta é uma hora para se parar e pensar (12). Pensar pelo que brigamos até agora, o que conseguimos, onde fomos usadas pelo sistema, o que deu errado, o que fazer de agora em diante. Sinto que existe todo um trabalho a ser feito de conscientização feminina — pois o que se passa no Piauí não é o mesmo das grandes capitais (8) — já que as lutas não serão primordialmente mais no nível do “queremos”, “exigimos”, das passeatas, mas da prática do obter e do ser. É uma luta mais intimista de um lado, fora dos jornais (11), mais difusa na realidade (15).
A luta de base, de formiguinha, onde o confrontamento não será mais com a polícia e o governo somente, mas basicamente com os companheiros de trabalho, amigos e marido (13).
SUPLICY, Marta. Reflexões sobre o cotidiano. Rio Janeiro: Espaço e Tempo, 1986. p. 124-5.
Assinale a opção que transcreve a passagem do texto II, cujo sentido corresponde ao fragmento de Marina Colasanti:
Culpadas estão quase todas as que trabalham. Porque não estão em casa, onde sempre lhes disseram que deveriam estar. Porque não estão coladas nos filhos. Porque não estão à disposição dos maridos. Porque, cumprindo a sua vida, não se sentem cumprindo à perfeição aquelas que são consideradas suas atribuições primordiais.
COLASANTI, Marina. Mulher daqui pra frente. São Paulo: Linoart, 1981.