Os palácios de fada eram um incêndio de luzes, antes que a pálida madrugada deixasse ver as monstruosas serpentes de fumo espraiando-se sobre Coketown. Um barulho de sapatos pesados na calçada, um tilintar de sinetas e todos os elefantes melancolicamente loucos, polidos e oleados para a rotina diária, recomeçavam a sua tarefa. Stephen, atento e calmo, debruçava-se sobre o seu tear, formando como os outros homens perdidos naquela floresta de máquinas um contraste com a máquina poderosa com que trabalhava. Umas tantas centenas de operários na fábrica, umas tantas centenas de cavalos-vapor de energia. Sabe-se até ao mais pequeno pormenor aquilo que a máquina é capaz de fazer. Não existe qualquer mistério na máquina, porém, no mais mesquinho dentre esses homens existe um mistério jamais decifrado. O dia clareou e mostrou-se lá fora, apesar das luzes brilhantes do interior. As luzes apagaram-se e o trabalho continuou. Lá fora, nos vastos pátios, os tubos de escapamento do vapor, os montes de barris e ferro-velho, os montículos de carvão ainda acesos, cinzas, por toda parte, amortalhavam o véu da chuva e do nevoeiro. O trabalho continuou até a sineta tocar o meio-dia. Mais barulho de sapatos nas calçadas. Os teares, as rodas e as mãos paravam durante uma hora. Stephen saiu do calor da fábrica para o frio e a umidade da rua molhada. Vinha cansado e macilento. Dando as costas ao seu bairro e aos companheiros, levando apenas um naco de pão, dirigiu-se à colina, onde residia o seu patrão numa casa vermelha com persianas pretas, cortinas verdes, porta de entrada negra, onde se lia Bounderby, numa chapa de cobre.
Charles Dickens. Tempos difíceis. São Paulo: Clube do Livro, 1969.
a) Identifique o contexto histórico descrito no texto.
b) A partir da interpretação do texto, escreva sobre os aspectos econômicos e sociais do contexto histórico citado.