Eu tinha o medo imediato. E tanta claridade do dia. O arrojo do rio e só aquele estrape*, e o risco extenso d’água, de parte a parte. Alto rio, fechei os olhos. Mas eu tinha até ali agarrado uma esperança. Tinha ouvido dizer que, quando canoa vira, fica boiando, e é bastante a gente se apoiar nela, encostar um dedo que seja, para se ter tenência, a constância de não afundar, e aí ir seguindo, até sobre se sair no seco. Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse: — “Esta é das que afundam inteiras. É canoa de peroba. Canoa de peroba e de pau-d’óleo não sobrenadam...”. Me deu uma tontura. O ódio que eu quis: ah, tantas canoas no porto, boas canoas boiantes, de faveira ou tamboril, de imburana, vinhático ou cedro, e a gente tinha escolhido aquela.... Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra!

(Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, p. 88-89.)

* instrumento de tortura

Levando-se em conta a norma padrão do português do Brasil,

  1. a) Como você caracteriza a variação linguística que aparece em Me deu uma tontura?

  2. b) Como você redigiria essa frase de acordo com a norma padrão?