O valor do futuro depende do que se pode esperar dele. Portanto: se você acredita de fato em alguma forma de existência post mortem determinada pelo que fizermos em vida, então todo cuidado é pouco: os juros prospectivos são infinitos. O desafio é fazer o melhor de que se é capaz na vida mortal sem pôr em risco as incomensuráveis graças do porvir. Se você acredita, ao contrário, que a morte é o fim definitivo de tudo, então o valor do intervalo finito de duração indefinida da vida tal como a conhecemos aumenta. Ela é tudo o que nos resta, e o único desafio é fazer dela o melhor de que somos capazes. E, finalmente, se você duvida de qualquer conclusão humana sobre o após-a-mor- te e sua relação com a vida terrena, então você contesta o dogmatismo das crenças estabelecidas, não abdica da busca de um sentido transcendente para o mistério de existir e mantém uma janelinha aberta e bem arejada para o além. O desafio é fazer o melhor de que se é capaz da vida que conhecemos, mas sem descartar nenhuma hipótese, nem sequer a de que ela possa ser, de fato, tudo o que nos é dado para sempre.
GIANNETTI, Eduardo. O valor do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 123.
A regência do verbo abdicar, que aparece no trecho — não abdica da busca de um sentido transcendente para o mistério de existir —, pode ser substituída, de modo compatível com a norma padrão e com o sentido do texto, pelo que está em: