Vocês, que não conhecem os subterrâneos de jornal, não imaginam como uma redação é povoada de seres misteriosíssimos. Procurem visualizar uma paisagem submarina. Há peixes azuis, escamas cintilantes, águas jamais sonhadas. De vez em quando, sai de uma caverna um monstro de movimentos lerdos, pacientes etc. E passa um peixe sem olhos, que emana uma luz própria.
Eis o que eu queria dizer: — quanto entrei, pela primeira vez, numa redação, acabava de fazer dez anos. Com a trágica inocência das calças curtas, tive a sensação de que entrava numa outra realidade. As pessoas, as mesas, as cadeiras e até as palavras tinham um halo intenso e lívido. Era, sim, uma paisagem tão fascinante e espectral como se redatores, mesas, cadeiras e contínuos fossem também submarinos.
(Nélson Rodrigues, O Reacionário: Memórias e Confissões.)
Nesse trecho de crônica, Nélson Rodrigues compara, em sua visão infantil, a redação de um jornal com uma paisagem submarina.
a) Destaque, desse texto, alguma palavra ou expressão empregada em sentido não-literal.
b) A que classe pertence a palavra submarinos na última linha do texto? De que maneira se deriva dessa palavra o nome do veículo naval submersível?