Texto I

Como lidar com brincadeiras que machucam a alma

Meire Cavalcante

A criançada entra na sala eufórica. Você se acomoda na mesa enquanto espera que os alunos se sentem, retirem o material da mochila e se acalmem para a aula começar (01). Nesse meio tempo, um deles grita bem alto: “Ô, cabeção, passa o livro! ” O outro responde: “Peraí, espinha”. Em outro canto da sala, um garoto dá um tapinha, “de leve”, na nuca do colega. A menina toda produzida logo pela manhã ouve o cumprimento: “Fala, metida! ” Ao lado dela, bem quietinha, outra garota escuta lá do fundo da sala: “Abre a boca, zumbi!” E a classe cai na risada. (...)

O nome dado a essas brincadeiras de mau gosto, disfarçadas por um duvidoso (02) senso de humor, é bullying. O termo ainda não tem uma denominação em português (...), mas é usado quando crianças e adolescentes recebem apelidos que os ridicularizam e sofrem humilhações, ameaças, intimidação, roubo e agressão moral e física por parte dos colegas. Entre as consequências, estão o isolamento e a queda do rendimento escolar. Em alguns casos extremos, o bullying pode afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio. (...) Em janeiro do ano passado, Edmar Aparecido Freitas, de 18 anos, entrou no colégio onde tinha estudado (03), em Taiúva (SP), e feriu oito pessoas com disparos de um revólver calibre 38. Em seguida, se matou. Obeso, ele havia passado a vida escolar sendo vítima de apelidos humilhantes e alvo de gargalhadas e sussurros pelos corredores. Atitude semelhante tiveram dois adolescentes norte-americanos na escola de Ensino Médio Columbine, no Colorado (EUA), em abril de 1999. Após matar 13 pessoas e deixar dezenas de feridos, eles também cometeram suicídio quando se viram cercados pela polícia. Assim como o garoto brasileiro, os jovens americanos eram ridicularizados pelos colegas. Os exemplos de Edmar e dos garotos de Columbine, que (04) tiveram reações extremadas, são um alerta para os educadores. “Os meninos não quiseram atingir esse ou aquele estudante. O objetivo deles era matar a escola em que viveram momentos de profunda infelicidade e onde todos foram omissos ao seu sofrimento", analisa o pediatra Aramis Lopes

Neto, coordenador do Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes, desenvolvido pela Abrapia.

Quem pratica e quem sofre

No filme norte-americano Bang Bang! Você Morreu, Trevor, o protagonista, é vítima de bullying. Para revidar, ameaça os que o perseguem com uma bomba de mentira. Diferentes dele são os que sofrem em silêncio e enfrentam com medo e vergonha o desafio de ir à escola. Em vez de reagir ou procurar ajuda, se isolam, ficam deprimidos, querem abandonar os estudos, não se acham bons para integrar o grupo, apresentam baixo rendimento e evitam falar sobre o problema. “Quem mais sofre é quem menos fala. Esses passam despercebidos pelo professor”, alerta a psicóloga Carolina Lisboa, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Centro Universitário Feevale (RS). “Tinha vontade de ficar sozinha. Não queria ser notada”, diz Vanessa Brandão Greco, da 7ª série da Escola Municipal de Ensino Fundamental Thomas Mann, no Rio de Janeiro. Ela recebia apelidos humilhantes por causa dos cabelos crespos. Mesmo quem adere à brincadeira se sente diminuído pelos comentários dos colegas. Mas, para se defender, entra no jogo — o que dá uma falsa impressão de que não se ressente. “Eu ridicularizava os outros porque, se não fizesse isso, o alvo seria eu”, conta Leandro Souza Gomes Santos, da 8ª série. (...) O bullying também pode ser praticado por meios eletrônicos. Mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulam por e-mails, sites, blogs (os diários virtuais), pagers e celulares. É quase uma extensão do que dizem e fazem na escola, mas com a agravante de que a vítima não está cara a cara com o agressor, o que aumenta a crueldade dos comentários e das ameaças. Quando uma agressão está num mundo virtual, o melhor remédio, é mais uma vez, a conversa. Se as crianças e adolescentes confiam nos adultos que os cercam, podem contar sobre o bullying sem medo de represálias, uma vez que terão a certeza de encontrar ajuda.

(http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0178/aberto/ bullying.shtml)

Sobre o terceiro parágrafo, só é possível afirmar que