Texto II
Foi no pátio (13) da escola, à hora do recreio. Eugênio(13) abaixou-se para apanhar a bola de pano, e de repente atrás dele alguém gritou: - O Genoca tá com as carça furada no fiofó! (09) Os outros rapazes cercaram Eugênio numa algazarra. Houve pulos, atropelos, pontapés, cotoveladas, gritos e risadas: eram como galinhas correndo cegas a um tempo para bicar o mesmo punhado de milho. No meio da roda, atarantado e vermelho, (06) Eugênio tapava com ambas as mãos o rasgão da calça, sentindo um calorão no rosto, que lhe ardia num formigamento. Os colegas romperam em vaia frenética: - Calça furada! - Calça furada! - Calça furada-dá! Gritavam em cadência uniforme, batendo palmas. Eugênio sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Balbuciava palavras de fraco protesto, que se sumiam devoradas pelo grande alarido. (07) (10) - Calça furada-dá! -No fio-fó-fó-fó! - Óia as calça dele, vovó! - Calça furada-dá! Do outro lado do pátio, as meninas olhavam curiosas, com ar divertido, pulando e rindo. (01) Em breve começaram a gritar também, integrando-se no coro, num alvoroço de gralhas. O vento da manhã, que agitava os ciprestes do pátio, levava no seu sopro frio (02) aquelas vozes agudas, espalhava-as pela cidade inteira, anunciando a toda gente que o menino Eugênio estava com as calças rasgadas, (11) bem naquele lugar.... As lágrimas deslizavam pelo rosto do rapaz e ele deixava que elas corressem livres, lhe riscassem as faces, lhe entrassem pela boca, lhe pingassem do queixo, porque tinha ambas as mãos postas como um escudo sobre as nádegas. Agora, de braços dados, os rapazes formavam um grande círculo e giravam dum lado para o outro, berrando sempre: Calça furada! Calça furada! Eugênio cerrou os olhos como para não ver por mais tempo a sua vergonha. Soou a sineta. Terminara o recreio. Na aula, Eugênio sentiu-se humilhado como um réu. Na hora da tabuada, a professora apontava os números no quadro-negro com o ponteiro e os alunos gritavam em coro. Dois e dois são quatro! Três e três são seis! E o ritmo desse coro lembrava a Eugênio a vaia do recreio. Calça furada-dá! (...). À hora da saída, Eugênio atrasou-se de propósito, foi o último a sair. Nem assim conseguiu fugir a nova vaia. Um grupo de seis meninos o esperava de emboscada numa esquina. (08) (12) Quando Eugênio passou, romperam de novo: Calça furada! Quió, galinha carijó! Calça furada! Calça furada! Eugênio caminhava acossado pela gritaria. (05) Voltaram-lhe as lágrimas, Ernesto cochichou: - Não seja besta, não chora que é pior. Finge que não dá confiança. Quando o bando o deixou em paz, seguindo outro rumo, Eugênio continuou a andar, de cabeça baixa. (03) O vento varria a rua, sacudia as árvores sem folhas, fazia voar pedaços de palha, fragmentos de papel, grãos de poeira. (04)
(Veríssimo, Érico. Olhai os lírios do campo. 81ed.-São Paulo: Globo, 1999)
É correto inferir do texto que em
I) “Eugênio abaixou-se para apanhar a bola de pano ...”, as orações apresentam relação de dependência.
II) “Em breve começaram a gritar também, enquanto se integravam no coro, num alvoroço de gralhas”, a segunda oração foi corretamente desdobrada.
III) “O vento da manhã, que agitava os ciprestes do pátio, levava no seu sopro frio aquelas vozes agudas ...”, a vírgula após a palavra manhã pode ser suprimida sem qualquer prejuízo para o trecho.
IV) “As lágrimas deslizaram pelo rosto do rapaz e ele deixava que elas corressem livres ...”, a conjunção e pode ser substituída por, mas sem que o sentido do trecho sofra alteração.
V) Estão corretas apenas