Profundamente (Manuel Bandeira)

[Parte I]

Quando ontem adormeci

Na noite de São João

Havia alegria e rumor

Estrondos de bombas luzes de Bengala

Vozes cantigas e risos

Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei

Não ouvi mais vozes nem risos

Apenas balões

Passavam errantes

Silenciosamente

Apenas de vez em quando

O ruído de um bonde

Cortava o silêncio

Como um túnel.

Onde estavam os que há pouco

Dançavam

Cantavam

E riam

Ao pé das fogueiras acesas?

Estavam todos dormindo

Estavam todos deitados

Dormindo

Profundamente

[Parte II]

Quando eu tinha seis anos

Não pude ver o fim da festa de São João

Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo

Minha avó

Meu avô

Totônio Rodrigues

Tomásia

Rosa

Onde estão todos eles?

Estão todos dormindo

Estão todos deitados

Dormindo

Profundamente.

As expressões “dormindo profundamente”, em destaque no final da primeira e da segunda parte do poema, significam, respectivamente: