Brazuca é um nome triste, mas não por ser com ‘z’
A escolha do nome da bola que a Adidas lançará para a Copa do Mundo de 2014 foi feita por votação na internet a partir de uma lista tríplice. Com 77.8% das preferências, Brazuca derrotou Bossa Nova e Carnavalesca. Como (2) quase todos os analistas da língua que estão de plantão esta semana, lamentei a notícia (considerava Bossa Nova o menos ruim de três nomes fracos), mas por motivos diversos. Não é a grafia com z que me incomoda, mas a palavra em si. Convém explicar. Sim, é verdade que todos os dicionários e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), da Academia Brasileira de Letras, registram apenas brasuca, com s. Afinal, a palavra não é derivada de Brasil, brasileiro? Eis toda a base para a argumentação dos que (3) implicaram com a grafia. Uma argumentação que deixa de levar em conta dois fatos singelos.
A forma brazuca é muito mais usada na vida real. Uma pesquisa no Google traz mais de 4 milhões de páginas, contra pouco mais de um décimo disso para brasuca. Pode-se defender a tese de que a preferência popular não é suficiente para alterar a grafia de um termo vernáculo, mas atenção: estamos falando de palavra informal, brincalhona, recente. Brazuca é uma gíria, e as gírias, como todas as criações populares, têm a mania de escolher como serão conhecidas.
Ainda que não fosse assim (4), o batismo da bola da Copa do Mundo é um ato de branding, ramo do marketing que tem regras próprias, entre elas a de privilegiar formas gráficas fortes - e nesse mundo a letra z goza de grande prestígio. Naturalmente, a correspondência com a grafia “Brazil” numa marca destinada a ter circulação internacional também deve ter sido considerada um trunfo por seus criadores.
Se (5) não é a grafia, o que sobra para criticar em Brazuca, a bola? Sua carga cultural idiota, só isso. O fato de que, brazuca ou brasuca, a palavra é um sinônimo tolo de brasileiro. O termo nasceu em Portugal com tom depreciativo (o sufixo “-uca”, o mesmo de mixuruca, deixa isso claro), numa espécie de contraponto ao nosso “portuga”. Até aí, tudo bem: a própria palavra brasileiro tinha uso pejorativo antes de ser assumida em espírito de desafio pelos nativos desta terra.
O problema é que, ao ser adotado por aqui, brazuca/brasuca virou um clichê patriótico viscoso, folclórico e carregado de autocomplacência, primo da malemolência, da ginga e da incrível musicalidade de muitos inzoneiros* que habita este gigante adormecido. É por isso que Brazuca é bola fora (1) - e Brasuca não seria melhor.
(Sérgio Rodrigues, 04/09/2012,
*Inzoneiro: Adj. Bras. Pop.
1. Mexeriqueiro, intrigante, mentiroso.
2. Sonso, manhoso. (Dicionário Aurélio)
Considere as afirmativas acerca dos relatores de coesão presentes no texto e identifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmativas:
() A conjunção como (2), estabelece relação de comparação entre os segmentos que une.
() A expressão dos que (3) refere-se a uma parte das pessoas que implicaram com o nome escolhido para a bola.
() O vocábulo assim (4) remete à maior flexibilidade que as gírias teriam em relação ao modo como são escritas.
() A conjunção se (5) implica a negação da grafia como responsável pela não aceitação do nome eleito para a bola.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo.