Considere o soneto a seguir, de Gregório de Matos:

Descreve com galharda propriedade o labirinto confuso de suas desconfianças

Ó caos confuso, labirinto horrendo,

Onde não topo luz, nem fio achando;

Lugar de glória, aonde estou penando;

Casa da morte, aonde estou vivendo!

Oh voz sem distinção, Babel* tremendo;

Pesada fantasia, sono brando;

Onde o mesmo que toco, estou sonhando;

Onde o próprio que escuto, não o entendo;

Sempre és certeza, nunca desengano;

E a ambas pretensões com igualdade,

No bem te não penetro, nem no dano.

És ciúme martírio da vontade;

Verdadeiro tormento para engano;

E cega presunção para verdade.

*Babel: bíblico, torre inacabada por castigo divino; quando de sua construção os homens viram seus idiomas se confundirem, gerando o desentendimento que os obrigou a se dispersarem. Por extensão, desentendimento, confusão.

(MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Seleção e organização: José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 219.)

O soneto transcrito apresenta características recorrentes da poesia de Gregório de Matos e do período literário em que ele o escreveu, o Barroco. Acerca desse soneto, é correto afirmar: